Texto Informativo
Um terço da Energia já vem de países Africanos
O Estado de São Paulo , 06/02/2011
Jamil Chade
Jamil Chade
Indústrias da Europa temem perda de fornecedores e Departamento de
Estado dos Estados Unidos fala em 'tsunami' chinês no Continente
Há poucos meses, líderes europeus receberam uma carta alarmante do setor
industrial da Alemanha, França e Reino Unido. Se a Europa não mudasse de
estratégia e desse maior atenção à África, o futuro da indústria do Velho
Continente estaria ameaçado.
O motivo era simples: a China havia comprado grande número de jazidas de
minérios, fonte de energias e recursos naturais na África, em um avanço que não
dá sinais de ser freado e com um apetite que parece ser insaciável. Hoje, um
terço do abastecimento de energia da China já vem do continente africano.
Pelos cálculos de Pequim, para avançar a China precisa ter o
abastecimento de suas necessidades equacionado. O país foi responsável por mais
de 50% do aumento no consumo mundial de metais para a indústria entre 2002 e
2005. A produção de aço na China passou de 66 milhões de toneladas para 500
bilhões de toneladas entre 1990 e 2008.
O resultado da entrada desse novo ator foi a explosão nos preços de
commodities, que tiveram alta de 159% em seus preços entre 2002 e 2008, segundo
o Parlamento Europeu. Nos últimos cinco anos, a China iniciou um safari pela
África em busca de acesso às matérias-primas e petróleo. Vários acordos foram
fechados nos últimos anos, com exploração de cobre na Zâmbia, cobalto na
República Democrática do Congo, ferro na África do Sul e Platinum em Zimbábue.
Em poucos anos, a China se estabeleceu como um dos principais atores na
exploração de minérios e outros recursos na África. Na Zâmbia, onde o cobre
representa mais da metade das exportações nacionais, Pequim se comprometeu a
adquirir quase a totalidade da produção.
A China precisa do cobre para garantir a expansão de sua indústria,
principalmente em cabos, no setor automotivo, circuitos integrados e
construção. Em 2004, a China já era o segundo maior importador de cobre do
planeta. Hoje, consome 25% de tudo o que é vendido.
No Sudão, Pequim já investiu US$ 4 bilhões para a produção de petróleo,
desenvolvimento de portos e dutos, tudo com um financiamento estatal.
Em Angola, a China ofereceu um empréstimo de US$ 2 bilhões ao governo de
Luanda. Em troca, recebeu a grande parte dos contratos de exploração de blocos
de reservas. Cinco anos mais tarde, Angola garante o abastecimento de 500 mil
barris de petróleo por dia para a China, um quinto de toda a produção
brasileira.
Em apenas cinco anos, a Angola superou a Arábia Saudita e o Irã como
maior fornecedor de energia para a economia chinesa, um papel central que
jamais teve para a economia portuguesa. O Golfo da Guiné é o próximo passo do
avanço chinês em busca de petróleo. A região teria reservas de 110 bilhões de
barris e Pequim não economizará em conquistar a região.
Metade da madeira que se corta por ano no Gabão e 60% das toras na Guiné
Equatorial vão para a China, ajudando Pequim a se transformar, em 2010, no
maior produtor de móveis do planeta.
Não é por acaso, que, em um recente memorando do Departamento de Estado
norte-americano, Washington descreveu a conquista chinesa na África como sendo
um "tsunami".
É na própria África que o debate ganha um tom de maior polêmica. O
ex-presidente da África do Sul, Thabo Mbeki, admitiu que o continente deve
pensar bem antes de fechar acordos com a China e evitar que se transforme em
uma "economia colonial" de Pequim. Até 2020, a projeção é de que a
China siga elevando a demanda mundial.
Postado por Genésia Tanaka Maduro
QUESTÃO
Quais são os interesses da China no continente africano até então esquecido? O que a África ganha com esta nova relação comercial com os chineses?